Estudante do CA vence etapa municipal das 6ª Olimpíadas de Língua Portuguesa
Estudante do CA vence etapa municipal das 6ª Olimpíadas de Língua Portuguesa
(Luisa dos Santos Pereira)
mãe foi carregada pelo mar quando foi colher mariscos nas pedras. Desde então, fui criada pelos meus tios e minhas primas eram como minhas irmãs.
Irei contar um episódio de que carrego as marcas até hoje. Uma vez, lá pela década
de 50, quando eu ainda era uma criança não muito pequena, em uma cidade não muito
grande que ficava em Santa Catarina, o sol ainda não havia nascido, mas eu e meus irmãos já estávamos indo pela estrada de chão até a roça de cana-de-açúcar.
Quando chegamos, fui esquentar o café. O vento bateu e as faíscas voaram até a
plantação, como um pássaro indo para seu ninho.
Com a plantação de cana em chamas, precisávamos apagar o incêndio, pois meus
tios só chegariam depois. Mas, enquanto tentávamos, o fogo de café se derramava em
mim e nos meus irmãos. Para nos livrar do fogo que nos queimava, tínhamos que pular
em uma cachoeira que havia perto.
Assim apagamos nossas chamas, mas toda a plantação se queimou com o fogo de
café.
Hoje ainda levo as marcas daquele dia, meus pés carregam cicatrizes do fogo,
minhas unhas se encravaram por conta da enxada. Na memória, o fogo de café ainda
queima e as faíscas ainda estão acesas.
Texto escrito a partir do relato de Leopoldina Maria Pereira (78 anos).
(Marina Bernardo Silva)
pescadores e moradores nativos de alguns bairros de Florianópolis. Porém, para os
surfistas é uma grande decepção.
Para avós pescadores, como o meu, essa é a estação certa para ensinar o neto ou a neta a pescar, fazer uma bela tarrafa, é a estação onde o que importa é pescar uma tainha para fritá-la e comê-la em um almoço de sábado, onde geralmente todos fofocam sobre a
família, com aquele diálogo rápido, bem manezinho, onde até você, que é nativa da ilha,
não entende direito.
Esta briga que no meu bairro já acontece há muito tempo, na minha família teve seu
início quando a minha mãe conheceu o meu pai. Ela, que vinha de uma família de
pescadores, casou-se com um surfista e, nessa mistura, eu vivi desde pequena. Cresci
indo a reuniões com o meu pai, que era presidente da associação de moradores, para
decidir quem no inverno ficaria com a praia: os pescadores que iriam se realizar com as
tainhas? Ou os surfistas que, mesmo no frio e na água gelada, se recusariam a deixar a
onda quebrar antes de pegarem um tubo?
A estação não importa, no frio ou no calor a única coisa que os surfistas querem é pegar
uma onda grande, aproveitar um dia inteirinho para se sentirem livres. Eu pego onda e
sei como é sentir a sensação de liberdade, onde nada importa. Você se sente livre,
calma, só pensa em se divertir. Quando você recebe a notícia de que vai ter o seu tempo
de liberdade cortado, você se sente ofendida praticamente como se estivesse faltando
algo dentro de si.
Desde criancinha já venho vivenciando esse impasse. Não consigo pensar em escolher
entre as duas coisas que já estão presentes na minha vida há muito tempo, afinal
reconheço tanto essas duas práticas que seria injusto com os dois lados que eu elegesse
um único, pois se nesse período os pescadores não pescassem uma grande quantidade
de tainhas, talvez ficassem sem seu sustento. Mas e os surfistas? Eles também precisam
do mar e da onda para conseguirem seguir com o seu hobbie e sua profissão.
A pesca da tainha que é uma cultura tão linda, nos dias de hoje é tomada, aos poucos,
pelo esquecimento de muitos, todavia a população mais antiga do meu bairro, que é
formada por muitos pescadores, vem tentando mantê-la. Então eu reflito: será mesmo
que os surfistas deveriam ter essa raiva ou essa mágoa por não poderem surfar nesta
única estação que é tão valiosa para os pescadores? Penso em como o meu avô e outros
da sua idade há tantos anos lutam para manter um acordo criado por ambos os lados,
onde o mar é exclusivamente até as cinco da tarde para aqueles que pescam, após isso
os surfistas podem voltar a remar na água gelada do inverno.
Talvez não seja uma ideia tão ruim dar espaço aos pescadores nativos da ilha nesses
momentos, já que um dia, não tão distante, eles e toda a cultura açoriana, serão iguais às
ondas que crescem e se quebram, virando apenas espuma que aos poucos vai sumindo,
como borrões que se apagam em nossa memória.
—
Colégio de Aplicação
Centro de Ciências da Educação
Universidade Federal de Santa Catarina